Sephora Dantas tem 32 anos de carreira na área da tecnologia. Nossa colaboradora há quase 20 anos, hoje ela atua como arquiteta de soluções e temos muito orgulho em tê-la em nosso time. Como homenagem ao Dia internacional das Mulheres, apresentamos um pouquinho de sua história.
Uma veterana…
A área de TI era novidade na minha época, por isso me considero uma veterana. Estava recém terminado o ensino básico, vi um panfleto de colegial técnico e acabei decidindo fazer processamento de dados. De cara me apaixonei por esse mundo.
Eu sempre tive no DNA a área de exatas: minha mãe é economista, minha irmã – sete anos mais velha – é engenheira eletrônica. No último ano do colegial, consegui estágio numa empresa que revendia soluções de wireless da AT&T e software de redes NetWare da Novell, e foi aí que me encantei com a área de infraestrutura.
Na minha época, não tinha esse cardápio de opções de cursos como tem hoje, não tinha um curso de análise de sistemas puramente, ou era contábeis com ênfase em análise de sistema ou administração com ênfase em análise de sistemas.
Então, optei por ingressar no curso de ciências contábeis e só nos últimos dois anos consegui migrar para outra faculdade que tinha o curso somente de análise de sistemas. Mais tarde, me especializei em redes.
Nós, mulheres…
Nessa área você dificilmente encontrava uma mulher porque, naquela época, o sistema de cabeamento (coaxial) das redes de computadores era bastante precário. Tinha cliente que eu precisava me enfiar embaixo da mesa para localizar o ponto de falha, em geral terminador desconectado, que ocasionava a parada total da rede de computadores. Isso não encantava muito as mulheres.
Hoje, se vê mais mulheres na área de infraestrutura em redes. Ainda é bem menos do que homens, porque eu acho que, em geral, as mulheres preferem a área de sistemas, na parte de desenvolvimento de softwares, de banco de dados, mas infraestrutura e redes ainda é minoria.
Na época em que eu ministrava treinamento, só tinham homens na sala. Hoje, já está mais diversificado: a cada três turmas, aparecem duas mulheres. Eu acredito que a questão é que, a área de infraestrutura e segurança tem pequenos detalhes que a gente não necessariamente coloca na balança, mas que acabam pesando. Por exemplo, horário de trabalho.
Normalmente, mulheres que estão envolvidas com a maternidade optam por um horário de trabalho fixo, e quem trabalha com infraestrutura e/ou segurança não tem isso, o que acaba sendo também um desafio na nossa profissão. Por diversas vezes eu cheguei em casa de madrugada, dirigindo sozinha em São Paulo, porque existiam algumas atividades que precisavam da presença do analista.
Dificuldades…
Nessa área, a gente não tem uma zona de conforto, todo dia tem um produto novo, uma tecnologia nova para estudar, um cliente com um desafio diferente, enfim, nunca fica na mesmice de permanecer com o mesmo conhecimento estagnado por anos.
No geral, dentro das empresas, há muito respeito hierárquico, independente se você for mulher ou não. Na área de infraestrutura e segurança há poucas mulheres, mas essas poucas estão bem posicionadas, todas muito bem vistas nas equipes. As empresas buscam mesclar os gêneros dentro das equipes. Aqui mesmo, na NetSafe Corp, a gente tenta contratar mais mulheres, mas é mais difícil de encontrar.
Em uma situação, em específico, senti que o fato de ser mulher me prejudicou na carreira. Havia sido aprovada em um processo seletivo e um dos rapazes que concorreu comigo, acabou assumindo um cargo inferior ao meu. Ele não aceitou muito bem e tentava me boicotar quando possível. Tentei achar uma solução junto ao meu gestor, mas a melhor solução que encontrei foi me desligar da empresa.
Desafios…
Na NetSafe estou há 19 anos trabalhando com segurança da informação. Ao longo da minha carreira, sempre trabalhei em empresas que têm o desafio de atender outras inúmeras empresas. Isso abriu meu leque, pois nunca fiquei à frente de uma única tecnologia.
Na NetSafe eu atendo vários clientes e cada um apresenta um cenário diferente, com necessidades distintas, e isso torna tudo mais dinâmico na minha carreira. Eu sou movida à desafios e o maior deles foi fazer gestão de pessoas.
Há uns quatro anos, fiz curso de pós graduação de Governança em TI para ter matérias relacionadas à gestão de pessoas, porque o maior desafio que eu encontrei foi liderar equipes, principalmente liderar equipes com a maioria sendo homens.
O fato é: uma coisa é você lidar com a máquina e entregar seu trabalho tecnicamente bom, a outra é você liderar uma equipe e garantir a entrega de 15 pessoas com qualidade, e conseguir se impor é bem complicado. Eu tinha que ter pulso firme. Esse foi o grande desafio da minha carreira.
Mudanças…
Eu não tive filhos por opção, mas acho que – dependendo da área de atuação – um grande desafio é essa questão do horário de trabalho. Pessoas que trabalham em infraestrutura, segurança, em sistemas mais críticos, tendem a ter necessidade de trabalhar em horários diferenciados, em esquema de plantão. Acho que isso afugenta um pouco as mulheres nessa área.
Em sistemas e tecnologia está tudo por igual. Não tem nada que impeça as mulheres de ingressarem na carreira em relação às opções de cursos e especializações. Hoje, a gente tem um alavancador de negócios que é a LGPD, porque está envolvendo trabalho entre escritórios de advocacia e empresas de tecnologia.
Aqui mesmo nós estamos desenvolvendo uma parceria com uma advogada. Isso possibilita o trabalho em conjunto com mulheres de outras áreas. É questão de tendência, de aptidão, de gostar de exatas e querer seguir esse caminho. Então acredito que a presença da mulher na tecnologia vai seguir uma ordem natural de independência e aceitação.
Futuro…
Dedicação e comprometimento são as únicas coisas que você precisa para estar aqui. Existem os profissionais que querem atirar para todo lado, o que a gente chama de “analista pato”, que tenta ser de tudo um pouco, ser generalista e não especialista.
O mercado está carente de pessoas especializadas. Esses dias eu vi no Linkedin mais de 25 anúncios de analista de segurança e analista de cyber security, e as empresas estão com dificuldade de encontrar esses profissionais.
Então é importante começar uma carreira numa formação acadêmica que te dê uma base, mas partir logo para uma especialização. A segurança da informação está extremamente carente, inclusive por conta da LGPD, precisa ter gente especializada mesmo, independente do gênero.